Pai do Mangue e a Mãe d'Água


O  Pai do Mangue


            O pai do mangue supostamente seria um senhor que vive no mangue para protegê-lo. Ele usa um samburá (tipo de cesto feito com bambu) pendurado nas costas porque gosta de tirar caranguejos dos pratos dos pescadores. O pai do mangue sempre é visto por aqueles que vão pescar com maldade e falando palavrões desrespeitando a natureza, faz com que correntezas derrubem a canoa desses pescadores e eles não consigam pescar nada de tão assustados que ficam.

             Ele seria um homem alto, de mais de dois metro de altura, de cor negra e que anda pelo mangue com a intenção de espantar todas aquelas pessoas que o desrespeita. Os anciãos falam que todos que vão ao mangue teriam que ter bastante respeito com a natureza. Geralmente quem vai ao mangue à noite sempre leva alguma oferenda, para pedir permissão ao Pai do Mangue, e assim adentrarem sem nenhum problema.

            Várias histórias rodeiam esse ser encantado, como na aldeia de Tramataia, terra indígena Potiguara, que está localizada na cidade de Marcação-PB. O povo dessa aldeia conta que um homem alto de cor negra (NEGÃO) anda à noite no mangue, procurando pessoas ruins que ele possa assombrar e expulsar de dentro do mangue, pois ele é o protetor, assim como a Cumadre Fulozinha é das matas.

       As pessoas mais velhas da aldeia contam que certa vez estavam pescando no mangue à noite e avistaram um negão a vagar em uma canoa, quase afundando de uma ponta a outra do mangue, remando com um pedaço de pau, mas não se assustaram, pois estavam apenas pescando e ao mesmo tempo tendo muito respeito pelo mangue.

            “Os Anciãos (pessoas mais velhas da aldeia) contam que aqueles que chamam muito “nomes feios”(palavrões), falam o nome do diabo, entre outras coisas que ele não gosta, são assombrados e perdem todo o pescado. O pai do mangue ainda faz com que eles se percam no mangue, mesmo se a saída for ali do lado deles.”  

Falam os pescadores mais velhos que, certo dia um grupo de pescadores foram ao mangue pescar em plena semana santa, o que é sagrado para as pessoas religiosas da igreja cristã. Nesta pescaria tinha muita bebedeira, palavrões e, durante o percurso com a canoa em um lugar mais fundo dentro do mangue, eles tiveram uma “visagem”. Era um negrão de mais ou menos 3 metros de altura dentro do mangue, com um detalhe, sua cabeça era do tamanho de uma laranja. Essa assombração fez com que a canoa virasse e os pescadores perdessem toda a pescaria da semana santa. Quando eles olharam para dentro do mangue, já não havia mais ninguém e ficaram perdidos dentro do mangue por dois dias sem comida nem água para beber.

Contam ainda que o pai do mangue sai com um balaio (cesto) enorme, cheio de caranguejos em cima da cabeça, onde não dá para ver seu rosto e, sai colocando estes caranguejos dentro de buracos, locas e lamas no mangue, repondo os caranguejos retirados pelos pescadores.
                                                                                                Narrador: José Rodrigues da Cruz  (pescador)  Rio Tinto-PB
Alunos/pesquisadores: Luciano Nunes, Jacyara Costa e Leonardo Dias.


         
Mãe d’Água

Contam os mais antigos ribeirinhos do litoral norte, que a Mãe d’água é uma linda mulher que vive à beira de rios e cachoeiras penteando seus longos cabelos, e atraindo os pescadores para dentro do rio com sua beleza. Mas quando os homens entram dentro da água percebem que ela é feia, tem meio corpo de mulher meio de peixe, fazendo com que os homens se afoguem facilmente em água rasa.

Dizem que ela faz isso para proteger os rios da pesca predatória e da poluição que os homens provocam. A Mãe d’agua também faz isso com as pessoas que chegam aos rios com má intenção, falando palavrões e embriagadas.

Contaram-me que certa vez um casal de namorados, escondidos de seus pais, foram até a beira do rio para namorar vendo o luar. Depois de uma discussão entre o casal, a menina disse que iria embora sem o rapaz e ele, com raiva, a mandou ir embora e que não queria mais vê-la. Assim ela fez, e depois de certo tempo a beira do rio, o homem escutou um sussurro de mulher. Foi quando ele se deparou com uma linda jovem penteando seus cabelos à beira do rio e o chamou dizendo para ele não ficar bravo, pois tudo iria passar.

Quando ele deu o primeiro passo dentro do rio, já estava se afogando no raso, sua sorte foi quando em um instante ele gritou de agonia, e sua namorada ainda nos arredores do rio o escutou e voltou correndo para ver o que tinha acontecido, ela se deparou com seu namorado se batendo no raso. A moça o ajudou pegando em seu braço e puxando de dentro do rio dizendo que estava tudo bem, que ela o perdoava, mas que teriam que contar para os pais de seu namoro com ele. Quem há de ter má intenção com uma moça à beira do rio, com a Mãe d’agua a vigiar?

Narrador: José Rodrigues da Cruz  (Pescador) Rio Tinto-PB
Aluno/pesquisador: Luciano Nunes.  


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